sexta-feira, 12 de junho de 2015

As principais tendências para negócios na web

Antes de falar de tendências para negócios digitais, temos que abordar as características de dois cenários com ecossistemas de tecnologia com estruturas de financiamento muito diferentes: enquanto os Estados Unidos têm muito dinheiro disponível para venture capital (29,4 bilhões de dólares em 2013, segundo a PWC) e muitas opções de saída em um cenário de afrouxamento monetário e juros zero.
No Brasil temos o inverso: algum dinheiro para capital semente, mas pouco para investimentos subsequentes, renda fixa em dois dígitos e muita instabilidade regulatória.
Com isso, formam-se dois mercados bastante diferentes. Nos Estados Unidos, uma das principais tendências que já podemos observar é a “internet das coisas”: o uso de sensores, big data e inteligência artificial para que máquinas resolvam problemas que antes eram resolvidos por pessoas.
Outra novidade são as “startups de hardware”, ligadas ao que chamamos de “wearables”, dispositivos e sistemas operacionais que atacam o celular como principal força de interação do usuário.
A criação do Google Glass e a evolução do conceito do Android Wear, além da compra da Nest Labs pelo Google, evidenciam essa tendência. Vale citar ainda a impressão 3D.
Podemos dizer que o que era tendência há algum tempo nos EUA, como ferramentas de troca de mensagens, ecossistema de APIs, mobile, social, cloud, sensores e big data, hoje são ferramentas estáveis para construção das novas tendências. No Brasil, apesar de podermos considerar esses itens ainda como novidade não temos estrutura de financiamento suficiente para emplacá-los.
Por aqui, vemos ainda uma consolidação da primeira onda de venture capital, que aconteceu entre 2011 e 2013 com três players relevantes: Hotel Urbano, Peixe Urbano e Dafiti, e algumas apostas interessantes em serviços financeiros, como o Bidu. Hoje temos uma quantidade razoável de capital semente, inclusive com interferência governamental, mas muita dificuldade para rounds subsequentes em startups já estabelecidas.
Com isso, acredito que a maior tendência no Brasil é emergir um modelo de venture capital especial, que não segue o modelo americano e leva em conta a particularidade do nosso cenário.
A primeira tendência que podemos observar é a emergência de uma nova geração de produtos B2B2C, ou seja, criados para empresas que já tenham clientes e capacidade para cobrar, provisionar e atender, o que elimina alguns riscos.
Empresas de BigData, cloud e social serão adquiridas ou montadas por empresas de TI maiores, que precisam se atualizar e têm muito mercado para “cross sell”. Outra aposta são startups que resolvem problemas de burocracia, classes de ativo como financiamento imobiliário, por exemplo, que aqui no Brasil não funcionam na mesma velocidade que o crédito automotivo.
O sucesso do aplicativo PlayKids na Apple Store americana comprova que o mercado de produtos para crianças também tem um bom potencial, e o IPO da Abril Educação em 2011 mostra como pode ser grande a oportunidade para startups ligadas à educação, uma vez que é alto o poder da venda recorrente para a população brasileira, ainda jovem. Por fim, devem aparecer dúvidas sobre novos investimentos em varejo, a não ser para players já estabelecidos.
Esse novo modelo deve surgir em um cenário confuso, com realização da Copa do Mundo e eleições, e deve enfrentar dificuldades como saídas de financiamento, custo Brasil e geração de talentos. 
Em resumo, ironicamente o novo modelo de investimento em capital “de risco” deve ser mais “cauteloso”, baseado em startups ligadas a grupos já estabelecidos que buscam receita recorrente e inovação de produto para usuários já existentes. As saídas deverão ser pequenas e baseadas em aquisições estratégicas sem nenhum IPO à vista. 
Fonte: EXAME PME